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Círculo restaurativo: a palavra nossa de cada dia

Mural de Práticas

Nacional | Paraná

Março/2018 – Dezembro/ 2019

Pessoa em privação de liberdade

Promoção da Saúde

Promoção da Saúde

Horizontalidade; voluntariedade; confidencialidade; escuta ativa; objeto da palavra

Autores:

Jane Cleide Alves Hir

Instituições parceiras:

Secretaria de Educação e do Esporte (SEED); Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN)

Do que trata a experiência?

Trata-se de um projeto de vivências do Círculo de Construção da Paz ou Círculo Restaurativo. Essa metodologia tem sido utilizada no Brasil em muitos espaços educativos e tem por objetivo principal a ressignificação da identidade, o fortalecimento dos vínculos afetivos consigo mesmo e com o outro. O Círculo Restaurativo pode ser definido como um processo estruturado para organizar a comunicação em grupo de forma horizontal e, intencionalmente concebido, para dar a todos o direito de dizer sua palavra e ser ouvido.  A experiência do Círculo na PFP permitiu que as apenadas vivenciassem um relacionamento afetivo, isonômico e conectado. Essa vivência possibilitou a reflexão sobre suas trajetórias singulares, e ao mesmo tempo, propiciou a identificação da humanidade de todas.

Que motivos levaram à realização da experiência?

Considerando a docência no sistema prisional como um compromisso ético com a reinserção social, procurei desde o início de minha atuação uma abordagem mais humanizada do ato de ensinar. Na identificação de tantas histórias dolorosas, eu percebi que era preciso trabalhar o emocional antes de ensinar conteúdos. Assim, a formação que tive em Justiça Restaurativa em 2017 me apresentou o Círculo Restaurativo e me deu as ferramentas necessárias para introduzir essa metodologia na minha prática docente. 

Quais objetivos foram pensados?

A utilização do Círculo Restaurativo na PFP tinha como objetivo principal criar um vínculo afetivo entre nós (eu e o grupo) que nos permitisse um diálogo honesto na perspectiva do empoderamento positivo e da saúde emocional. Em consonância com o Modelo Centrado na Pessoa, desenvolvido por Carl Rogers, ao utilizar a escuta ativa como norma de conduta, essa metodologia valoriza a pessoa como sujeito e ao mesmo tempo ajuda a diminuir o sofrimento e a desenvolver uma postura mental saudável.

Nesse sentido, a minha intenção ao possibilitar a fala e a escuta era abrir espaços de reflexão sobre as narrativas pessoais e, ao mesmo tempo, auxiliar as apenadas a identificar recursos internos para superar a angústia e a ansiedade.

Qual o passo-a-passo da realização da experiência?

A partir das rodas de conversas já instituídas na minha prática docente, contei a história do Círculo Restaurativo como uma prática ancestral de resolução de conflitos, expliquei o ritual do Círculo e fiz o convite para a vivência. No início escolhi temáticas leves que foram sendo cada vez mais desafiadoras no decorrer do processo, possibilitando ao grupo encarar medos, angústias e dores e a partir dessas vivências identificar as fontes de apoio e os recursos internos disponíveis para uma possível mudança.

Quais os materiais utilizados nas ações?

Escolha dos valores norteadores do encontro e a firmação de um compromisso com o grupo, de acordo com os pressupostos desta metodologia. Formação em roda das educandas com a facilitadora, leitura de textos, poemas, histórias... Músicas cantadas e dinâmicas de grupo. Peça de centro e objeto da Palavra.

Quais foram os resultados?

No círculo, a escuta é um ato social, contextual e dialógico, traz ao centro o indivíduo e também o grupo. Todos cuidam e se sentem cuidados. A vivência dos círculos criou um ambiente afetivo. Saber das histórias de vida, das dificuldades e tropeços das trajetórias individuais de todas, incluindo a facilitadora, possibilitou que se sentissem respeitadas e pertencentes ao grupo, o que por si só corrobora para a saúde mental dos sujeitos pertencentes. Assim, a metodologia dessa comunicação em grupo fortaleceu a autoestima, o protagonismo e a empatia, condições fundamentais para   o aprendizado assim como para as relações interpessoais. Logo após os primeiros círculos, muitas educandas relataram que estavam mais tranquilas, esperançosas e até que dormiam melhor.

No sentido de melhor explicitar os resultados desse projeto, e, à maneira dos antigos guardiães dos primeiros Círculos da Cultura aborígene, contamos aqui o que as educandas nos contaram sobre os Círculos na prisão:

“O Círculo é um momento que nos fortalece.”

“Essa roda faz a gente se ver e se sentir melhor.”

“Estou aprendendo a ouvir ”

“Ser ouvida assim ,com tanto respeito, parece até que cura a gente.”

“Nessa roda descobri que só eu posso mudar a minha história.”

Educandas da PFP - 2018/2019

 Acredita que a experiência pode ser replicada em outros lugares?

Sim, é possível que essa experiência seja replicada em outros lugares, desde que haja formação dos facilitadores com a designação de uma assessoria permanente.

Imprima a experiência:

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